pelo centro histórico de Lisboa. O percurso foi conduzido pelo arquitecto Filipe Lopes, presidente da OPRURB (Associação Ofícios do Património e da Reabilitação Urbana) e pelo engenheiro Vítor Cóias, presidente do GECoRPA.
A caminhada começou no Castelo de São Jorge e acabou em plena Baixa lisboeta, com a visita a um estaleiro conduzida pelo engenheiro Luís Mateus da Monumenta, Conservação e Restauro do Património, Ld.ª.
O passeio teve por objectivo sensibilizar para a importância da “qualidade” nas intervenções de reabilitação do edificado. Ao longo do trajecto, os participantes foram confrontados com exemplos práticos de reabilitação urbana, positivos e negativos...
À entrada do Castelo de S. Jorge, Vítor Cóias fez uma introdução à visita, seguido de Filipe Lopes, que explicou o conceito de reabilitação. Efectivamente, o âmbito da reabilitação alargou-se desde o interesse renascentista exclusivo por edifícios antigos, gregos e romanos, até aos edifícios mais recentes. Mediante o tipo de edifício e a sua antiguidade, as intervenções são distintas, advindo daí dois conceitos: o restauro e a reabilitação. O primeiro aplica-se a obras/monumentos históricos, enquanto o segundo a bairros antigos mais modestos e ainda habitados. A reabilitação abrange, além do edificado, os espaços públicos, os transportes e o bem-estar dos residentes. Em Lisboa, a génese da reabilitação urbana remonta à década de 80, nos bairros de Alfama e da Mouraria, estendendo-se, nos anos 90, ao Castelo, Bairro Alto, Madragoa, Bica, a um conjunto de núcleos (Carnide, Lumiar, Ameixoeira e Olivais Velho) e a uma centena de pátios e vilas. O custo médio deste programa cifrou-se pela metade do correspondente à construção de habitação social nova na periferia.
Após a visita ao Castelo de S. Jorge, cuja vista privilegiada permitiu tecer considerações sobre a visibilidade do edificado, a caminhada continuou por ruas estrategicamente escolhidas para mostrar o estado de alguns edifícios que merecem ser reabilitados, ou que já o foram de forma deficiente: desceu-se a Costa do Castelo, as Escadinhas da Achada, o Largo da Achada (onde se assistiu à queda, em directo, de parte de uma varanda que quase atingiu um turista...), a Rua das Farinhas, o Largo da Rosa, a Rua Marquês de Ponte de Lima, até à Praça da Figueira. Percorreu-se, ainda, a Rua dos Fanqueiros até ao estaleiro da Rua do Comércio. Constatou-se que um dos graves problemas da reabilitação é o mau (ou falta de) planeamento: projectos mal concebidos cujas verbas rapidamente se esgotam, ficando as obras por concluir.
Na Rua do Comércio, visitou-se um edifício que introduziu no passeio a análise de aspectos do foro construtivo e estrutural. Ao contrário do que geralmente acontece nas reconstruções da Baixa, que adulteram as estruturas pombalinas, neste edifício a reabilitação estrutural foi feita com técnicas pouco intrusivas. A sua revitalização passou por diferentes fases, desde o primeiro levantamento das estruturas de madeira até ao reforço estrutural, a cargo da Monumenta, Ld.ª. A fase de acabamentos, por sua vez, está a cargo da Construtora Vila Franca, Ld.ª. Vítor Cóias apresentou algumas maquetes virtuais de dispositivos pouco intrusivos actualmente utilizados na reabilitação de fundações e estruturas de edifícios antigos para aumentar a sua resistência sísmica.
Ao longo do passeio focaram-se diferentes aspectos da reabilitação urbana como o urbanismo, a arquitectura, a construção e as estruturas. Realçou-se o papel dos bairros como factor de coesão comunitária, dado que reforçam a memória colectiva, demonstrando, igualmente, que reabilitar é gerir, pois além das preocupações ecológicas, é uma forma de combater a crise (economia de materiais e de energia, promoção de emprego qualificado). Concluiu--se, portanto, que uma reabilitação correcta é garante de sustentabilidade urbanística, social, ambiental e económica.
BIBLIOGRAFIA RECOMENDADA
CÓIAS, Vítor – Reabilitação estrutural de edifícios antigos. Técnicas pouco intrusivas, Lisboa, GECoRPA/Argumentum, 2007.
MATEUS, Luís Pedro – “A gaiola pombalina. A viabilidade na recuperação estrutural”, in Pedra & Cal n.º 36 (Outubro – Dezembro 2007), pp. 30-31.
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