Revista Pedra&Cal

As Crianças e o Património

Indíce

02 EDITORIAL

03 SÓCIOS APOIANTES

04 Crianças e Património
Na celebração do 20.º aniversário da Convenção das Nações Unidas sobre os Direitos da Criança, a 20 de Novembro, a associação entre Crianças e Património é inevitável – porque o mais importante património da criança é constituído pelos seus direitos,
 HELENA DE GUBERNATIS

07 Um piscar de olhos ao património
A questão de base deste artigo começou por ser o porquê da importância do património para as crianças. Numa publicação dirigida a profissionais de reabilitação, conservação e gestão de património, esta é uma pergunta com uma resposta quase “infantil”
 RITA CANAVARRO e SARA BARRIGA

10 O Parque Arqueológico do Vale do Côa
O Parque Arqueológico do Vale do Côa, afastado dos principais centros urbanos e da corda litoral que há séculos vem atraindo o povoamento no país, guardou, mercê deste seu carácter periférico, testemunhos bem conservados dos grupos humanos que o esco
 ALEXANDRA CERVEIRA LIMA

13 A Arqueologia e a Ecologia
A interdisciplinaridade como modelo de ciência e de divulgação
 JOÃO PEDRO TERESO, RITA GASPAR

16 Viajar no tempo através do património histórico e arqueológico do concelho de Mafra
 MARTA MIRANDA

20 Mosteiro de São Martinho de Tibães
Serviço de Educação e Comunicação
 PAULO OLIVEIRA

22 Conservação e restauro dos revestimentos da Igreja do Espírito Santo – Arronches
 MADALENA RODRIGUES, DAVID LLANOS, FÁTIMA DE LLERA

24 Património e acção educativa no Programa Gulbenkian Educação para a Cultura
O Descobrir – Programa Gulbenkian Educação para a Cultura, coordena e articula, de forma transversal, os vários projectos educativos oferecidos pela Fundação Calouste Gulbenkian, procurando desenvolver modelos inovadores e interdisciplinares de activ
 RUI VIEIRA NERY, ROSÁRIO AZEVEDO, SUSANA GOMES DA SILVA

26 As crianças e o patrimônio: algumas experiências no Brasil
A conservação do patrimônio é, fundamentalmente, uma questão de conscientização das novas gerações.
 CYBÈLE CELESTINO SANTIAGO

28 As crianças e o parque edificado
Todos nós, em diversos momentos do ciclo de vida, temos diferentes estádios de mobilidade e esta passa, numa primeira etapa, por sermos crianças, termos uma pequena estatura, força física e campos visuais reduzidos, capacidade de percepção e avaliaçã
 SARA ELOY

30 Conservação e restauro do pórtico central, grupo escultórico e escadaria da Via Latina no Paço Real das Escolas da Universidade de Coimbra
Uma intervenção muito pouco intrusiva num edifício emblemático
 FILIPE FERREIRA

32 O material pétreo
A conservação do pórtico central, grupo escultórico e escadaria da Via Latina, no Paço Real das Escolas da Universidade de Coimbra, foi realizada para o gabinete para as novas instalações da Reitoria da Universidade de Coimbra, estando os trabalhos d
 MADALENA RODRIGUES, DAVID LLANOS, FÁTIMA DE LLERA

34 Cartas & Convenções
Declaração de Taormina Salvemos a memória e a identidade da Europa

36 LEGISLAÇÃO
Mecanismos de responsabilização em conservação e restauro de bens culturais

36 Mecanismos de responsabilização em conservação e restauro de bens culturais
Embora pecando por tardia, a recente legislação introduz um mecanismo prévio de responsabilização em relação às intervenções no património cultural. Trata-se do Decreto-Lei n.º 140/09, de 15 de Junho, que estabelece os normativos que são necessários
 JOSÉ MARIA AMADOR

40 As Leis do Património
A selecção de empreiteiros para a reabilitação do património histórico-artístico
 A. JAIME MARTINS

41 NOTICIAS

43 AGENDA

44 VIDA ASSOCIATIVA

47 LIVRARIA

49 Esperança
(ou a arte de ver muitos filmes)
 ANTÓNIO PEREIRA COUTINHO

50 ASSOCIADOS GECoRPA

52 PERSPECTIVAS
Terrorismo regulamentar
 JOSÉ AGUIAR

Preço: 5,00 €

N.º 44
As Crianças e o Património


As futuras gerações são constituídas pelos nossos filhos e netos e os seus descendentes. Teoricamente, todos desejamos para eles um mundo melhor. Todos sabemos, no entanto, que esse será um mundo mais competitivo e exigente, quer no plano interpessoal, quer no plano internacional. Num e noutro plano, o sucesso passa pela detenção de recursos e pela capacidade de os rentabilizar, de modo eficaz e sustentável, criando condições que permitam uma vida saudável, digna e produtiva para todos.

Em Portugal, os principais recursos disponíveis são, em primeiro lugar, os humanos, ou seja, nós próprios e a nossa capacidade de criar riqueza; em segundo lugar, o nosso património natural e cultural, isto é, a herança que recebemos da geração anterior. Deixando de lado o bom aproveitamento dos recursos humanos (sobre o qual, obviamente, muito também haveria a dizer), e olhando apenas para o nosso património, há uma questão básica sobre a qual é preciso reflectir:
 
Estão os “crescidos” de hoje a gerir devidamente a herança – o Património Natural e o Património Cultural – que receberam da geração anterior e que lhes compete deixar aos “miúdos”? Por outras palavras: o uso que fazem desse património, os adultos de hoje, é sustentável, evitando delapidá-lo e desvalorizá-lo?

A resposta é, infelizmente, negativa. Teoricamente, todos os “crescidos” desejam para os “miúdos” um mundo melhor, com o direito a usufruírem, por seu turno, do património natural e cultural que pertence a todos e a cada geração de portugueses. Mas, na prática, as suas atitudes e comportamentos vão em sentido contrário. Basta olhar à volta: artificialização galopante dos melhores lugares da orla costeira com urbanizações e resorts, exploração de pedreiras em parques naturais para fabricar cimento, extracção de areia dos rios e lagos para mais construções, destruição de montado para construir campos de golfe, destruição de habitats e de ecossistemas com a construção de mais auto-estradas e mais barragens… Isto, no que toca ao património natural. No que toca ao património cultural, o abandono e decadência da cidade antiga, de que o “melhor” exemplo é a própria capital do País… A descaracterização dos centros históricos com construções espúrias, abandono dos monumentos e sítios ou a sua deterioração por intervenções mal concebidas ou mal executadas.

A cupidez e ganância dos “crescidos” de hoje, não só desvaloriza e delapida o património, como contribui, pelo mau exemplo, para que os “miúdos” de hoje, ao chegarem a adultos, não sejam, eles próprios, depositários responsáveis desse património.

É claro que há bons exemplos e “crescidos” responsáveis. Mas não existem em número suficiente para influenciarem uma sociedade que há muito resvala pelas encostas anónimas da história: ou são demasiado “sensatos” para tentarem mudar o mundo à sua volta, ou remam contra a corrente avassaladora da mediocridade e do facilitismo. Aos “crescidos” que remam contra a maré e, sobretudo, aos “miúdos”, se dedica este exercício da Pedra & Cal. Aos primeiros, es-perando que a sua abnegação e persistência consiga reunir finalmente a massa crítica necessária à mudança; aos segundos, esperando que venham a constituir uma geração mais responsável e inteligente do que a actual.


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