Revista Pedra&Cal

Reabilitação de Coberturas

Indíce

04 Editorial
 Vítor Cóias

06 Universidade de Coimbra
Intervenção de estabilização da sanca da Capela de São Miguel
 Fernando Marques

10 Centro Histórico de Leiria
Reabilitação da cobertura de um edifício pombalino
 Pedro Lourenço

14 Intervenções nas coberturas de duas obras de Raul Lino
Ao longo dos mais de setecentos projetos que lhe são atribuídos e constituem o seu vasto legado, Raul Lino exerceu uma influência determinante sobre a arquitetura do século XX em Portugal.
 Vítor Cóias

18 Coberturas do Mosteiro da Batalha
Três exemplos de reabilitação, conservação e restauro da cobertura
 Filipe Ferreira

22 Mosteiro de Santa Maria de Alcobaça
Reabilitação das coberturas do refeitório e das alas envolventes do Claustro da Portaria e do Claustro da Prisão
 João Graça

26 Mosteiro dos Jerónimos e Museu Nacional do Teatro
Manutenção e conservação dos terraços
 Carlos Costa

28 Reabilitação estrutural de uma cobertura de madeira na Baixa do Porto
O NCREP – Consultoria em Reabilitação do Edificado e Património, Lda., realizou recentemente a inspecção, o diagnóstico e o projecto de reabilitação estrutural da cobertura de madeira de um dos edifícios do Polo das Indústrias Criativas do UPTEC

30 Reforço e reparação de estruturas de madeira de coberturas
Em coberturas antigas a reabilitar, quando as asnas de madeira se apresentam com aspeto exterior envelhecido, há sempre a tendência para optar pela substituição por uma nova estrutura, eventualmente de outro material.
 José Rodrigues

32 Ermida Sant’Ana, Tavira
Projeto de Valorização e Restauro
 Célia Anica

33 ASPIM Associação Portuguesa de Impermeabilizadores
Sistemas de impermeabilização para coberturas planas com membranas betuminosas
 Pedro Gonçalves

36 Telhas romanas
Um artefacto significante
 Rodrigo Banha da Silva

38 Casa do Passal: como é possível?
fábrica Emalia de recipientes esmaltados que, durante a guerra, produziu componentes para munições, foi recentemente transformada num moderno museu dedicado às atribulações vividas por Cracóvia durante os cinco anos de ocupação nazi...
 Vítor Cóias

40 Divulgação
Oficina do Cego Associação de Artes Gráficas

42 Um caso de atentado à boa prática da reabilitação urbana
Com projecto já aprovado pela Câmara Municipal de Lisboa, pretende um promotor imobiliário demolir quatro moradias isoladas, descartando a possibilidade de proceder à sua reabilitação.
 João Martins Jacinto

44 Cidadania
135 Anos de Norte Júnior

46 Notícias

50 Agenda

51 Livraria

52 Empresas associadas do GECoRPA - Grémio do Património

54 Desencontros com o Património
Lucros Privados e Prejuízos Públicos?
 José Aguiar

Preço: 5,00 €

N.º 55
Reabilitação de Coberturas


EDITORIAL por Vítor Cóias | Diretor da Pedra & Cal

Cobertura
De substituto da caverna a contributo para a sustentabilidade


"... o homem primitivo não tinha outro elemento além da vara ou do tronco de árvore que lhe pudesse sugerir a possibilidade, que cedo surgiu, de vencer vãos, de cobrir espaços que substituíssem a caverna e pudessem igualmente abrigá-lo das intempéries... Surgiu assim o primeiro abrigo diferente da furna, da caverna ou da gruta..."

Assim começava, em agosto de 1961, o engenheiro Tomás Mateus a sua tese para investigador do LNEC. Invocava ele as primeiras construções de madeira que o Homem erigiu para se abrigar, quando abandonou as cavernas e começou a fixar-se por perto dos locais onde mais facilmente encontrava meios de subsistência.

A cobertura é, desde sempre, um dos elementos mais importantes de um edifício. Ela constitui um autêntico escudo, defendendo o interior da ação direta dos raios solares e da água da chuva. Uma boa conceção e construção da cobertura tem reflexos muito benéficos na durabilidade do edifício, na economia de energia e no conforto interior. Quer seja inclinada, com duas ou mais "águas", ou plana, em terraço, a cobertura desempenha uma função complexa em comparação com os outros elementos do envelope ou "pele"; do edifício: no nosso país, mais de quatro quilowatts-hora de radiação solar por metro quadrado submetem diariamente a cobertura a forte fadiga térmica; a água da chuva atinge-a diretamente e escorre sobre ela antes de chegar ao solo ou ao sistema de esgotos; o vento solicita-a por vezes com violência, comprimindo-a nuns sítios, aspirando-a noutros.

Ciente da importância da cobertura e da sua manutenção, um outro Mateus, o arquiteto Mateus do Couto, advertia, em 1631: "tiray o tecto de hua casa, em pouco tempo paredes, madeyramentos e mais fabrica della vira a terra..."

Daí que, numa sequência oposta à da construção nova e contrariando a sabedoria popular, as obras de manutenção e de reabilitação devam geralmente "começar pelo telhado", frequentemente através da montagem de uma cobertura provisória, destinada a proteger a original, degradada, e, sobretudo, o interior do edifício, por essa via diretamente exposto à intempérie.

A Casa do Passal, em Cabanas de Viriato (ver artigo nas páginas 38-39), é um notório exemplo do que acontece a um edifício quando se ignoram estes cuidados elementares, na ocorrência com a agravante de se tratar de um monumento nacional, a morada de família desse grande português que foi Aristides de Sousa Mendes.

Apesar da prevalência do betão armado como material estrutural, que conduz, naturalmente, à adoção da cobertura horizontal em terraço, o tipo de cobertura mais comum em Portugal continua a ser a inclinada, revestida a telhado. É bom que assim seja, dadas as vantagens de ordem funcional e, também, de ordem estética, na medida em que tal opção contribui para a valorização da “quinta fachada” das cidades, vilas e aldeias, aquela que é vista do ar ou de um ponto alto.

As preocupações recentes com a redução do consumo de energia nos edifícios vêm reforçar a importância do desempenho da cobertura. Constata-se, frequentemente, que é ao nível da cobertura que o investimento em reabilitação energética consegue uma maior rentabilidade em quilowatts-hora poupados por euro aplicado, nomeadamente na melhoria do isolamento térmico.

Em Portugal, a radiação global anual que incide sobre as coberturas dos edifícios atinge um dos valores mais elevados da Europa. Se essa energia fosse aproveitada, bastariam dois metros quadrados de área exposta para suprir as necessidades anuais de energia elétrica de uma família. É claro que só uma parte daquela energia é aproveitável. Mas, mesmo assim, a captação de energia é já uma nova função da cobertura dos edifícios, função essa que se intensificará certamente no futuro.

À captação de energia, começa a somar-se uma outra função que, em muitas regiões, as coberturas já tiveram no passado: a de recolherem a água da chuva. Estas duas novas funções das coberturas contribuirão decisivamente, no futuro, para a redução da pegada ecológica do estilo de vida insustentável a que nos habituámos.
 


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