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Há cerca de 10 000 anos, um construtor de Yiftah'el, na Galileia, concluiu a montagem de um forno carregado com pedra calcária e madeira que ardeu durante vários dias1. Deu a operação por terminada quando saía menos fumo pela chaminé. Sabia que a seguir tinha de ter cuidado, porque a pedra retirada do forno fervia em contacto com a água2. Depois de evaporar a água, o construtor dispunha de um material notável: a cal, que misturada com areia lhe permitia preparar uma argamassa. Lentamente3 essa argamassa ia endurecendo, garantindo a ligação entre os materiais.
Pedra, lama e madeira sempre estiveram à disposição do Homem no planeta. Com a ajuda de ferramentas rudimentares, trabalhou a pedra e a madeira, faltando-lhe apenas as argamassas para unir as pedras, de modo a mantê-las estáveis e resistentes à intempérie. Os Egípcios usaram argamassas e desenvolveram notáveis técnicas de construção. Nabateus, Gregos e Romanos descobriram (e inventaram) novos materiais e novas técnicas. Vitrúvio, nos seus 10 livros, escreveu tudo o que se sabia na sua época sobre a construção.
O Homem usou na preparação de argamassas, para além da cal e das areias, outros componentes, que lhes conferiam novas propriedades: conchas, ossos, gorduras, sangue de animais, cinzas vulcânicas, restos de tijolos e telhas, etc.. Os Romanos descobriram que juntando cinzas vulcânicas à mistura, a argamassa ganhava presa mesmo em contacto com a água, permitindo usá-la na construção junto aos lagos, rios e mar. Séculos decorreram até 1759, quando John Smeaton4 (para muitos, o pai da Engenharia Civil) terminou a construção do Farol de Eddystone, usando com sucesso cal hidráulica, como um ligante resistente à acção agressiva do mar. Em meados do século passado, surgiram as primeiras argamassas de origem fabril na Europa. A União Europeia em 1989 publicou a Directiva dos Produtos da Construção e em consequência, as Argamassas Fabris viram reconhecida a sua importância, através de dezenas de Normas Europeias6, obrigatoriedade da Marcação CE e certificação. A Construção tem de ser sustentável, devendo utilizar produtos de baixo conteúdo energético. Os edifícios estão obrigados a exigentes regulamentos de construção e, quando em serviço, têm de ser energeticamente eficientes, podendo vir a ser excedentários na produção de energia (cf. bepos, bâtiments à energie positive7). À semelhança de outros materiais (vidro, metais, tintas, isolamentos, etc.) que evoluíram da preparação em obra para as fábricas, também as argamassas deixam progressivamente de ser produzidas nas condições precárias da obra, passando a ser produtos fabris, regulados por Normas Europeias obrigatórias, formulações estudadas, ensaios, registos, certificação, acompanhados de Ficha Técnica e Ficha de Segurança.
A reabilitação das construções existentes, parte delas antigas, e, sobretudo, a conservação do património arquitectónico, obrigam a recuperar materiais e técnicas de construção entretanto caídas em desuso. Assim, nas argamassas, assiste-se ao retorno à cal aérea e à cal hidráulica como ligantes, mais fáceis de trabalhar e, sobretudo, mais compatíveis com os materiais antigos em termos das suas propriedades químicas, termo higrométricas e mecânicas.
Compete à I&D encontrar as formulações para os fabricantes produzirem as argamassas. Carlos Duarte