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Palácio de Santa Helena, Alfama: Os moradores mexem-se

Localização, a vermelho, do Palácio da Cruz de Santa Helena em Alfama, na imagem original de Benjamín Mejías Valencia, 28 de Janeiro de 2017. Wikimedia Commons
Localização, a vermelho, do Palácio da Cruz de Santa Helena em Alfama, na imagem original de Benjamín Mejías Valencia, 28 de Janeiro de 2017. Wikimedia Commons

Stone Capital quer reconverter o palácio em 20 apartamentos de luxo, mas os moradores vão travar o processo com uma providência cautelar.

Este Palácio de Santa Helena, provavelmente construído no período seiscentista, pertenceu aos Condes de S. Martinho e situa-se em Alfama, dentro da muralha Fernandina e muito perto da Igreja de São Vicente de Fora. O edifício, sobranceiro ao rio Tejo e ao vale de São Miguel, debruça-se sobre o bairro com ampla vista natural e urbana.

O histórico de utilização do imóvel contempla não só a sua função residencial desde o século XVII dos membros da nobre família Siqueira, como também a integração da Escola Superior de Educação Almeida Garrett, que ocupou o edifício nos últimos 20 anos. Agora, o antigo Palácio, está a ser convertido em 20 apartamentos de luxo, 9 dos quais já estão vendidos, conforme adianta a mediadora imobiliária do projeto, Porta da Frente, do grupo Christie's International Real Estate.

Originalmente desenhados pelo Arquiteto Samuel Torres de Carvalho estão a ser construídos desde meados de Setembro deste ano pela Stone Capital, uma empresa sediada em Lisboa que se dedica à reabilitação de edifícios de primeira linha para fins comerciais ou residenciais.

Segundo a brochura e o site de apresentação deste projeto, o empreendimento tem por objetivo "devolver a este bairro familiar uma zona de convivência e partilha" e que, por isso, "é uma declaração de amor à vida lisboeta". Todavia os moradores dos edifícios envolventes discordam das boas intenções da empresa tendo em conta que terão limitações no usufruto do espaço quando a obra estiver pronta. Por exemplo, a sua visibilidade para o panorama descrito será reenquadrada. Uma das responsáveis pelas relações públicas da Stone Capital já admitiu ao jornal Público que com "a subida dos apartamentos 8 e 9, situados na parede do contingente oeste, os moradores do prédio vizinho – mais concretamente o morador do segundo andar – poderá efetivamente ver a sua vista atual limitada". O que valoriza o seu empreendimento e desvaloriza os restantes. Além disso os valores dos apartamentos não é para todos, balizando-se entre os 850.000€ e os 2.000.000€ pagos pelo ator Michael Fassbender por um destes apartamentos em maio deste ano, avança o Diário de Notícias. O ambiente integrante publicitado pela Stone Capital contrasta com a essência luxuosa do empreendimento, pois além do valor exacerbado das habitações o que acontece com as várias casas e apartamentos de luxo é uma ocupação esporádica ou sazonal por residentes interessados num ambiente privado e protegido, ao contrário daquela partilhada por todos os restantes moradores do bairro. É, por isso, lógico questionar o que justifica privilegiar o empreendimento retirando aos moradores uma das razões pelas quais compraram os seus apartamentos naquela mesma localização? Mário Menezes, um morador local, disse ao Jornal Público no passado dia 11 de outubro que lhe estão a retirar "a coisa que mais preza" na sua casa. Este e outros residentes já admitiram interpor uma providência cautelar ao projeto da Stone Capital. Ainda que a empresa alegue estar aberta ao diálogo com os moradores, estes desmentem que assim seja.

Não se sabe qual o desfecho desta situação, mas a Stone Capital está convicta que terminará o empreendimento em 2018.

Contextualização histórica

Encontramos no inventário de Lisboa, por Norberto Araújo, que a provável construção do imóvel se terá dado no século XVII. Em 1755, à data do terramoto, ficou consideravelmente danificado e, nesta altura, pertencia a Rui Vaz Siqueira, fidalgo da Casa dos Siqueira, de S. Martinho de Mouros. Nos finais do século XVIII, D. Ascenço de Siqueira Freire de Sousa Chichorro Abreu Cardoso, 1.º Conde de São Martinho, reside no Palácio.

No século XIX, o 3.º Conde de São Martinho, manda fazer obras de restauro e transformação do palácio.

 

Links

Site da Stone Capital: www.stonecapital.pt

Site do empreendimento: www.santahelena.pt

Site da mediadora imobiliária do empreendimento:
www.portadafrente.com/pt_PT/shop/product/palacio-santa-helena-35253?category=2&page=3

Diana Carvalho

24/10/2017

Galeria


"Alguns moradores queixam-se de que vão perder parte das vistas", 11 de Outubro de 2017. Fotografia de Nuno Ferreira Santos, Jornal Público

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