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80% da Mata Nacional de Leiria lavrada pelas chamas

Pinhal de Leiria, 16 de Outubro de 2017. Fotografia retirada do Jornal de Leiria.
Pinhal de Leiria, 16 de Outubro de 2017. Fotografia retirada do Jornal de Leiria.

Em menos de 24h arderam 700 anos de património histórico e natural, que ocupa uma área superior a 11.000 hectares na faixa litoral do Concelho da Marinha Grande, no Distrito de Leiria.

Dos cerca de 18km de comprimento e 7km de largura sobram apenas 20% de área não ardida. Este foi um dos resultados dramáticos dos vários incêndios que assolaram todo o país no passado fim de semana de 15 para 16 de outubro, ceifando e desalojando dezenas de vidas e obrigando o Governo a declarar, novamente, o estado de calamidade pública.

Ainda por apurar atualmente as causas e responsabilidades deste e de todos os outros incêndios, sabe-se que não é a primeira vez que o Pinhal do Rei arde quase na totalidade.

Os autores Flora Ferreira-Leite, António Bento-Gonçalves e Luciano Lourenço dão nota, na obra "Grandes incêndios florestais em Portugal Continental. Da história recente à atualidade", de um incêndio ter consumido várias centenas de hectares da floresta em 1824, e em 1916, o poeta e jornalista leiriense Acácio de Paiva, publica no jornal "O Século" um artigo sobre um incêndio de grandes dimensões que naquele ano consumiu quase todo o pinhal. Curiosamente, em 101 anos a descrição feita pelo jornalista acerca da falta de meios para combater o fogo assemelha-se à experiência vivida este passado fim de semana: "Na fúria com que toda a gente se atirava ao fogo não havia visivelmente um plano de ataque, executando a uma voz imperiosa de comando; mas havia uma perícia e uma tática individuais que davam ao conjunto dos esforços uma admirável unidade de ação."

E as questões colocadas relativamente ao futuro do pinhal também ecoam na atualidade: "Serão [os planos para diminuir os incêndios] ao menos eficazes? Conseguir-se-á uma vigilância suficiente e permanente? Não se voltará, passada a impressão da catástrofe, à indiferença do costume?"

Além dos incêndios é de conhecimento público que o pinhal tem diminuído drasticamente a sua área por outros motivos: a pressão demográfica, o parcelamento e venda, empreendimentos privados, aparecimento de parques industriais, exploração madeireira e substituição do pinheiro bravo por eucalipto.

É urgente que se discuta o futuro desta e de todas as outras florestas nacionais que são património natural mas também histórico e, muitas das vezes, cultural.

O pinhal de Leiria subsidiou consideravelmente a História de Portugal no período dos Descobrimentos, marcou o início do cultivo intensivo de pinheiro bravo em Portugal, acolheu dezenas de espécies animais e vegetais, foi solo de vários pontos de interesse e utilidade pública (postos de vigia, fontes, parques de merendas, etc.), tem sido palco de atividades pedagógicas e recreativas, manteve-se fiel ao seu propósito original prevenindo até aos dias de hoje o avanço das dunas, providenciou vários quilómetros de sombra, e cumpriu muitas outras funções úteis à população, por isso, oferecemos-lhe uma nota de apreço nesta secção de notícias.

Contextualização histórica

É a D. Dinis (1279-1325) que se atribui o maior crédito pela existência e fama do Pinhal de Leiria conforme o conhecemos hoje. A plantação do pinhal deveu-se a razões estratégicas relacionadas com o avanço e degradação das dunas que impediam a rentabilização dos terrenos costeiros, e com a necessidade de proteger território habitado e cultivado em redor da cidade de Leiria das areias trazidas pelo vento. E, sem que se suspeitasse no século XIII, este pinhal viria a ser a fonte principal de matéria prima onde o período dos Descobrimentos foi talhar a sua frota naval. Em 1597, durante a dinastia filipina regulamentou-se o aproveitamento e vigilância do pinhal. Em 1835 deixa de ter Guarda-mor.

O pinhal é sempre jovem, pois ao longo da sua existência tem servido o propósito de providenciar a população e as indústrias com o combustível necessário ao seu desenvolvimento. No século XVIII e XIX dele se alimentaram a indústria vidreira, metalúrgica e de produtos resinosos (por via da extração da goma dos pinheiros), bem como servindo de matéria-prima para produção de energia tanto para as indústrias como para habitações.

A história do pinhal é feita de renovação constante pois, por cada parcela utilizada, esta era novamente plantada.

Ligações

Queixa a à Procuradoria-geral da República: www.jornaldeleiria.pt/noticia/cidadaos-da-marinha-grande-enviam-queixa-procuradoria-geral-7360

Ações de sensibilização: www.jornaldeleiria.pt/noticia/cordao-humano-e-manifestacao-contra-atrocidades-provocadas-p-7362

20/10/2017

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