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Deslocação ou "morte": salvar um edifício histórico mudando-o de sítio

Fig. 2 - O edifício MFO durante a deslocação. Note-se o caminho de rolamento e o interesse dos populares.
Fig. 2 - O edifício MFO durante a deslocação. Note-se o caminho de rolamento e o interesse dos populares.

A necessidade de construir uma nova linha de caminho-de-ferro obrigou, em finais de 2012, à mudança de sítio de um edifício histórico de grandes dimensões: o Edifício MFO, localizado junto da estação de Oerlikon, em Zurique.

Segundo rezam as notícias da altura, foi uma tomada de posição da população local, consciente do valor histórico do edifício, que impediu a demolição, promovendo a sua salvaguarda.

O edifício, com mais de 4000 m2 de área útil, foi construído em 1890 pela "Maschinenfabrik Oerlikon", um fabricante suíço de motores e locomotivas elétricas (fig. 1). Esta empresa foi comprada em 1970 pela Brown Boveri, a qual veio a fundir-se, por sua vez, no grupo industrial suíço ABB. São, ainda hoje, as iniciais da primitiva empresa que dão o nome ao edifício, construído para alojar os escritórios. Em 2010 o edifício escapou à demolição e passou a integrar o portfólio da Swiss Prime Site AG, uma das maiores imobiliárias suíças, aparentemente com a condição de o deslocar para permitir aos caminhos-de-ferro suíços construir uma nova linha paralela às já existentes na estação. O valor da localização "prime", que justificou um investimento de 12 milhões de francos suíços pela imobiliária, não deve, portanto, ter sido estranho à viabilização desta importante operação de engenharia.

A preparação começou em agosto de 2010, desligando e refazendo as infraestruturas e instalações de serviço. Os trabalhos de escavação no novo local decorreram entre 2011 e 2012. Foi construído um caminho de rolamento constituído por vigas e roletes de aço. O edifício, com 80 metros de comprimento e 6 200 toneladas de peso, foi, então, deslocado 60 m segundo o seu eixo longitudinal (figs. 2, 3 e 4), utilizando equipamento hidráulico. Segundo as descrições da operação, a deslocação demorou cerca de 18 horas, a uma velocidade da ordem dos 4 metros por hora. A população acompanhou com interesse a salvação do "seu" edifício MFO (fig. 2), que foi, por fim, objeto de uma renovação dos interiores, concluída em 2013.

Em termos de perturbação do tecido urbano, a deslocação do edifício de Zurique pode considerar-se cirúrgica. No entanto, as deslocações de edifícios históricos aparecem também associadas a intervenções altamente intrusivas, como alternativa à demolição e reconstrução, se não ao puro e simples aniquilamento. Ficaram para a história casos como as grandes destruições promovidas em Bucareste pelo regime de Ceausescu no âmbito do tristemente famoso programa de "Sistematização". Com essa intervenção, levada a cabo nos anos oitenta a pretexto dos danos causados pelo terramoto que abalou a cidade em 1977, foram demolidos cerca de 500 hectares da cidade, dos quais cerca de metade correspondiam a áreas urbanas de importância histórica.

Em Lisboa, uma tal intervenção corresponderia, em termos de área, a demolir toda a Baixa, o Bairro Alto, a Avenida da Liberdade, a Colina de Santana, as Avenidas Novas e parte de Alvalade, até Entrecampos.

A operação levada cabo pelo regime de Ceausescu incluiu a deslocação de oito igrejas, entre elas a de Santo Elias, situada no bairro de Rahova (figs. 5 a 8). Olhando para o seu atual esplendor, dificilmente se adivinham as vicissitudes por que passou. Para além de dois mosteiros, outras dezanove igrejas cristãs ortodoxas, três igrejas protestantes e seis sinagogas tiveram menos sorte e foram demolidas.

Nota: Ver todas as figuras na galeria em baixo.

30/01/2015

Galeria


Fig. 1 - A antiga fábrica da Maschinenfabrik Oerlikon (MFO), em Zurique, fins do século XIX, princípios do século XX. Em primeiro plano, do lado esquerdo, o edifício que viria a ser deslocado em 2012.

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